O Atletiba da Gripe (1933)
Nada melhor do que começar o Campeonato Paranaense com um clássico, não é mesmo? Em 1933, a Federação Paranaense de Desportos foi logo marcando um Atletiba para iniciar os trabalhos daquele ano. Mas um imprevisto deixou o início do certame ameaçado: um surto de gripe assolou jogadores e dirigentes do Athletico. E aí? Como ficaria? A partida seria adiada? O Coritiba esperaria os rivais ficarem bons e aceitaria remarcar o duelo? Nada disso. Tudo ocorreria conforme planejado, fazendo o confronto entrar para a história como o Atletiba da Gripe.
O SURTO
Na semana da abertura do estadual, segundo informações do livro “Atletiba: a paixão das multidões”, de Carneiro Neto e Vinicius Coelho, praticamente todos os atletas rubro-negros, incluindo alguns cartolas, caíram de cama. Um incidente bastante particular, já que nenhum outro ponto da cidade de Curitiba registrou onda de gripe similar, como frisa “Clube Atlético Paranaense: uma paixão eterna”, obra de Heriberto Ivan Machado, Valério Hoerner Júnior e José Paulo Fagnani.
Não houve condições de os atleticanos treinarem, então os cartolas do clube propuseram um adiamento do cotejo. Pela Federação, tudo bem. O problema foi o Coxa, que não aceitou o remanejamento. O jogo teria, mesmo, que rolar no dia programado.
A situação era tamanha que se ventilou a ideia de os vermelhos e pretos entregarem os pontos de antemão ao Cori, sem nem entrarem em campo. Os jogadores, porém, não quiseram essa conversa. Jogariam. Dariam um jeito. E o jeito dado foi resgatar alguns nomes já afastados da equipe e com eles completar um quadro capaz de pisar no gramado do Belfort Duarte.
O ATLETIBA DA GRIPE
Coritiba e Athletico deram o pontapé inicial no Campeonato Paranaense de 1933 em 21 de maio. Um domingo histórico. Apesar do estado de saúde adverso do plantel, o Rubro-Negro superou-se e atuou de igual para igual ante os favoritos donos da casa.
Raul Rosa abriu o marcador para o Athletico. Pouco depois, Levoratto bateu o goleiro Alberto (irmão do futuro dono das redes atleticanas, Caju) e igualou a contagem.
A partir daí, o anfitrião passou a controlar o confronto. Até que o CAP obteve uma importante falta próxima à área rival. Na cobrança, Marreco solapou o arqueiro Esmanhoto e deu números finais à contenda: 2x1.
O QUE ROLOU NA SEQUÊNCIA
O impressionante resultado cativou torcedores e jornais, que passaram a chamar os vencedores de “Time da Raça”.
Ainda que pudesse carregar uma conotação um tanto perigosa àqueles tempos, além do voluntarismo que costumamos associar hoje à palavra, o apelido pegou. E seria a alcunha com a qual o CAP ficaria mais conhecido até o aparecimento do Furacão de 1949.
Apesar da impressionante vitória no Atletiba da Gripe, o Athletico não mais conseguiria nenhum triunfo no Campeonato Paranaense — terminaria em último na tabela de classificação do torneio da Liga de Curitiba. O Coritiba, em contrapartida, ganharia todos os compromissos seguintes, sagrando-se campeão na sequência.
FICHA TÉCNICA
CORITIBA 1x2 ATHLETICO
Data: 21 de maio de 1933
Competição: Campeonato Paranaense
Local: Estádio Belfort Duarte (Curitiba/PR)
Árbitro: Ataíde Santos.
Gols: Levoratto, pelo Coritiba. Raul Rosa e Marreco, pelo Athletico.
Coritiba: Esmanhoto, Anjolilo e Pizzatto; Guarani, Ninho e Contim; Laudelino (Cuka), Levoratto, Emílio, Pizzatinho e Érico.
Athletico: Alberto, Zanetti e Normando; Canoco, Falcine e Cid; Levorattinho (Marreco), Naná, Raul Rosa, Mimi e Firmino.